Pensemos num dia comum de uma pessoa comum. Tudo começa com algumas invenções medievais: ela põe sua roupa de baixo (que os romanos conheciam mas não usavam), veste calças compridas (antes, gregos e romanos usavam túnica, peça inteiriça, longa, que cobria todo o corpo), passa um cinto fechado com fivela (antes ele era amarrado). A seguir, põe uma camisa e faz um gesto simples, automático, tocando pequenos objetos que também lembram a Idade Média, quando foram inventados, por volta de 1204: os botões. Então ele põe os óculos (criados em torno de 1285, provavelmente na Itália) e vai verificar sua aparência num espelho de vidro (concepção do séc.XIII). Por fim, antes de sair olha para fora através da janela de vidro (outra invenção medieval, de fins do século.XIV) para ver como está o tempo.
Ao chegar na escola ou no trabalho, ela consulta um calendário e verifica quando será, digamos, a Páscoa este ano: 23 de março de 2008. Assim fazendo, ela pratica sem perceber alguns ensinamentos medievais.
Foi um monge do século VI que estabeleceu o sistema de contar os anos a partir do nascimento de Cristo. Essa data (25 de dezembro) e o dia da Páscoa (variável) também foram estabelecidos pelos homens da Idade Média. Mais ainda, ao escrever aquela data - 23/03/2008 -, usamos os chamados algarismos arábicos, inventados na Índia e levados pelos Árabes para a Europa onde foram aperfeiçoados e difundidos desde o começo do século XIII. O uso destes algarismos permitiu progressos tanto nos cálculos cotidianos quanto na matemática, por serem bem mais flexíveis que os algarismos romanos anteriormente utilizados. Por exemplo, podemos escrever aquela data com apenas sete sinais, mas seria necessário o dobro em algarismos romanos (XXIII/III/MMVIII).
Sentimos fome, a pessoa levanta os olhos e consulta o relógio na parede da sala, imitando o gesto inaugurado pelos medievais. Foram eles que criaram, em fins do século XIII, um mecanismo para medir o passar do tempo, independentemente da época do ano e das condições climáticas. Sendo a hora do almoço, a pessoa vai para casa ou para o restaurante e senta-se à mesa. Eis aí outra novidade medieval! Na antiguidade, as pessoas comiam recostadas numa espécie de sofá, apoiadas sobre o antebraço. Da mesma forma que os medievais, pegamos os alimentos com colher (criada aproximadamente em 1285) e garfo (século XI, de uso difundido no XIV). Terminada a refeição, a pessoa passa no banco, que, como atividade laica (não religiosa), nasceu na Idade Média. Depois para autenticar documentos, dirigi-se ao cartório, instituição que desde a Idade Média preservava a memória de certos atos jurídicos ("escritura"), fato importante numa época em que pouca gente sabia escrever.
Franco Júnior, Hilário, somos todos da Idade Média. Revista de História da Biblioteca Nacional. mar.2008.
disponível em www.revistadehistoria.com.br Acesso em 20 dez.2011.
A prematura medicina
Os tratamentos e intervenções médicas na época medieval eram embasados em crenças supersticiosas e realizados de modo bastante experimental. Ou seja, se você adoecia, por mais simples que fosse seu problema endêmico, você não tinha nenhuma certeza concreta do que poderia lhe acontecer devido ao amadorismo com que os problemas de saúde eram tratados naquela época. Endosse a essa concepção, que a religião católica, dominante majoritariamente na época, não autorizava que os especialistas em medicina na época utilizassem os corpos humanos de pessoas mortas para testes e experimentações, barrando o progresso do que entende-se por medicina, por um período quase que milenar. Ah, verdade. Não existia anestesia, né? Pense no quanto arrancar um dente, que seja, era dolorido.
Média de Vida: 30 anos e bolinha
A época medieval foi o período da famosa Peste Negra, uma grande pandemia que assolou a Europa no século XIV e que dizimou muitos habitantes. A chance de ser europeu e a taxa de mortalidade ao contrair a doença naquela época era em torno de 50%. Fato esse que fazia os índices de expectativa de vida na Europa serem de míseros 30 e poucos anos. Quase um luxo viver esse tempo topo com essa ameaça constante.
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