Professores não surgem do nada, não é uma raça geneticamente modificada que escolhe seguir um ofício com a bênção divina e que andará pelo vale da sombra da morte e não temerá mal algum. Não existe “dom” algum, existe a transpiração, a empatia sofisticada, a paciência e outros engenhos que Filosofia de Educação não ensina durante a licenciatura. Adorno não vai ajudar um futuro professor a lidar com ministros da Educação leigos ou com uma paleta de 45 cores diferentes que é a sala de aula.
ada um, em sua carteira, do mais extrovertido e participativo até o mais interiorizado e aquém, é o sujeito da própria vivência e essa demanda ser apreendida e reconhecida pelo professor da maneira que é: una. A sala de aula não é palco para exigir protagonistas e secundários. São todos, do professor aos alunos, cheios de espinhos e redondos demais para termos apenas um com lugar de fala. E se a docência implica essa percepção, não surpreende que tenhamos cada vez menos professores.
Afinal, não existe um porquê do “ser professor”! Mas como já foi dito, ninguém nasce professor. Alguém, durante sua vivência de aluno, tornou-se dependente dessa ideia depois de agrupar várias experiências, de ouvir um “ser professor me faz ser sempre jovem” ou “eu amo ser professora, apesar de tudo, eu amo isso aqui”. Seja qual for o motivo que faz um sujeito querer ser professor atualmente, esse motivo troca a valia do alto salário pela remuneração imaterial de ver seu aluno descobrindo sua condição ímpar. Troca o escritório com ar-condicionado pela sala de aula sem cortina não por masoquismo, mas por significação. Troca o conformismo de afundar-se no próprio sofá do fraco autoconhecimento para respirar o outro em vários aspectos – seus sentidos, suas cognições, suas potencialidades, suas coisas-somente-inigualáveis-apenas-deles.
Virar-se de frente para o seu aluno e encará-lo na pupila pode ser a primeira validação de existência que ele terá na vida e sem troca de energia não há catarse e esperança de um “mundo melhor”. Se existem pessoas condenadas a acreditar num melhor porvir, essas pessoas são, por formação (formal e informal), professores. Felizmente, pessoas assim ainda existem, sistemas mal fundamentados são autodestrutivos e o mundo passa por uma brusca oscilação. E é sem temer que eu finalizo esse texto agradecendo todos os meus professores, os feiticeiros benignos ou os algozes, pessoas de carne, osso e muito sangue, que assinam diariamente a carta de alforria da educação
Autora: Bianca Peter